Fabrício Queiroz, o ex-motorista e ex-assessor ligado à família Bolsonaro, faltou aos dois depoimentos marcados pelo MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) nas últimas semanas, mas, na noite desta quarta-feira (26), concedeu uma entrevista exclusiva ao jornal SBT Brasil. A aparição em rede nacional deveria ser para explicar a movimentação financeira “atípica” verificada em sua conta bancária, e que envolve até mesmo a esposa do presidente eleito Jair Bolsonaro, mas, ao contrário, Queiroz se enrolou e seguiu sem dar uma explicação convincente para o caso.
A explicação do ex-assessor virou motivo de piada nas redes sociais. “Eu sou um cara de negócios. Eu faço dinheiro, compro, revendo, compro, revendo, compro carro, revendo carro… Sempre fui assim, gosto muito de comprar carro de seguradora, na minha época lá atrás, comprava um carrinho, mandava arrumar, revendia, tenho uma segurança”, declarou na entrevista.
Queiroz era funcionário do gabinete de Flávio Bolsonaro, filho do presidente eleito, na Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro). O Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), órgão do Ministério da Fazenda, identificou “movimentações atípicas” de R$ 1,2 milhão na conta bancária de Queiroz em um período de 13 meses.
O relatório do Coaf revela que Queiroz fez um depósito na conta de Michele Bolsonaro, esposa do presidente, no valor de R$ 24 mil, além de sua conta ter recebido depósitos de vários funcionários do gabinete de Flávio, coincidentemente sempre nos dias de pagamento da Alerj. Os saques eram feitos no dia seguinte. Há casos de repasse de até 99% dos salários de assessores em forma de depósito na conta do motorista.
Sem apresentar nenhum documento ou prova de seu “negócio” altamente lucrativo que o fez ter em conta bancária mais de R$ 1 milhão, apesar de morar numa casa simples na periferia carioca; sem dar nome de supostos clientes ou parceiros em tais negócios; Queiroz levantou mais suspeitas sobre sua relação com a família Bolsonaro.
Na internet, explicação de Queiroz virou motivo de piada
Quando perguntado sobre os depósitos feitos em sua conta por sua filha e esposa, que também foram assessoras da família Bolsonaro, bem como pelos demais assessores do gabinete do então deputado estadual, Queiroz não quis responder. “Esse mérito de dinheiro eu queria explicar para o MP”, disse.
Apesar de dizer não saber o nome do médico ou do hospital em que esteve internado recentemente, disse que foi diagnosticado com um câncer e, por isso, não pode dar nenhuma declaração pública ou comparecer ao MP desde que o caso veio à tona há mais de 20 dias.
Ao MP, Queiroz não pode comparecer. Mas para conceder uma entrevista exclusiva, com toda a complacência do SBT, cujo dono Silvio Santos já demonstrou total apoio a Bolsonaro, pode. O problema é que Queiroz não deu explicações convincentes e as suspeitas de ser um “laranja” a serviço da família Bolsonaro continuam.
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Fonte: CSP-Conlutas – 27/12/2018