A sobrecarga e as precárias condições de trabalho são temas recorrentes e preocupantes na área da Educação. Docentes de universidades públicas, institutos federais e cefets têm enfrentado, nos últimos anos, desafios em sua rotina, como o produtivismo, o aumento na quantidade de tarefas, carga horária extensa, falta de recursos e de condições de trabalho adequadas.
Essa sobrecarga tem ocasionado problemas de saúde física e mental às e aos docentes, como aponta o resultado preliminar da Enquete Nacional do ANDES-SN “Condições de Trabalho e Saúde Docente”, realizada pelo Grupo de Trabalho de Seguridade Social e Assuntos de Aposentadoria (GTSSA) do Sindicato Nacional, com colaboração técnica de docentes. O levantamento coletou dados de 1.874 docentes, de 22 de maio a 22 de junho de 2023, em 11 instituições públicas de ensino.
As professoras e os professores responderam questões relacionadas às condições de trabalho, as modificações impostas pela pandemia de Covid-19 e da plataformização do trabalho, além do adoecimento docente desse processo. A enquete apurou também a sindicalização e a organização sindical das e dos docentes.
Cerca de 65% das entrevistadas e dos entrevistados afirmaram que o volume de trabalho aumentou comparando o segundo semestre de 2019 com os dias atuais. Com relação à sobrecarga de trabalho, 42% das e dos docentes responderam que “sempre” se sentem com excesso de trabalho e 33% se sentem “frequentemente” sobrecarregadas, totalizando 75%. Quando se fala na pressão em responder a prazos e metas, 79% das pessoas afirmaram que “sempre” (46%) ou “frequentemente” (33%) se sentem pressionadas nas suas instituições.
O desvio de função está presente na vida das e dos docentes, que acabam desempenhando serviços administrativos, burocráticos, limpeza, segurança, entre outras atividades não específicas do trabalho docente. Para 19% das e dos respondentes isso ocorre “sempre” e para 26% “frequentemente”.
Quando perguntados e perguntadas sobre se tratam de assuntos relacionados ao trabalho, por e-mail ou mensagem online, fora do seu horário de expediente, 41% apontou que “sempre” e 40% respondeu “frequentemente”.
As perdas salariais e os ataques contra a carreira docente provocam o achatamento salarial e o endividamento da categoria. Mais da metade das e dos docentes (58%) responderam possuir dívidas, financiamentos ou empréstimos.
Com a pandemia de Covid-19 e, consequentemente, o trabalho remoto emergencial, ocorreu o aceleramento do processo de plataformização do trabalho docente nas instituições públicas. 38,3% das e dos respondentes avaliaram como negativas as mudanças na forma de desenvolver seu trabalho a partir de 2020, marcadas pelo aumento da utilização de tecnologias da comunicação em informação.
A precarização das condições de trabalho atingiu em cheio a saúde das e dos docentes. 40% avaliaram a saúde como regular e 15,1% como ruim e péssima. Dentro do quadro de adoecimento, as patologias mais frequentes são as doenças musculoesqueléticas, transtorno de ansiedade e doenças cardiovasculares, respectivamente. Mais da metade (55%) respondeu que relaciona seu quadro de adoecimento às questões do trabalho.
Para Michele Schultz, 1ª vice-presidenta da Regional São Paulo do Sindicato Nacional, o resultado preliminar da enquete, com 18 das 74 questões aplicadas, teve como objetivo levantar as condições gerais de trabalho e traçar um panorama geral, bem como direcionar as pautas e ações do ANDES-SN e suas seções sindicais referentes à saúde e condições de trabalho da categoria. “A partir desta primeira etapa, pretendemos expandir a enquete para todas as demais universidades, institutos federais e cefets. É importante ressaltar que dependemos das seções sindicais para ajudarem na divulgação da pesquisa. A ideia é atingir não apenas as pessoas sindicalizadas, mas também as não sindicalizadas, porque um dos objetivos é exatamente mobilizar as pessoas a partir da tomada de consciência das condições de trabalho [ao responder a enquete]”, explicou a diretora do ANDES-SN.
Enquete Operária
O questionário teve como base a Enquete Operária de Karl Marx, que tinha como objetivo investigar as condições de vida e de saúde da classe
trabalhadora, além de politizar as trabalhadoras e os trabalhadores e contribuir para o fortalecimento das suas organizações de luta, como um instrumento de ação política.
Em mobilização organizada ao lado das entidades sindicais de outras categorias do funcionalismo público do estado, arrancaram do governo um pequeno aumento de 5.6%.
Acesse o relatório preliminar da enquete
Fonte: InformANDES – julho 2023