A tragédia e os suplícios vividos pelos moradores da capital alagoana desde 2018, que têm a petroquímica Braskem como principal algoz, escreveu mais um dramático e absurdo capítulo na terça-feira (28). Tremores causados pelo deslocamento do solo nas áreas próximas ao bairro Mutange, levaram à decretação de estado de emergência por 180 dias e à orientação para que famílias que habitam os bairros Flexal de Baixo e Flexal de Cima, abandonem suas casas devido ao risco de afundamento. No local funciona a mina 18 de extração de sal-gema da petroquímica.
Em nota, o ANDES Sindicato Nacional aponta que tragédia “tem origem nas necessidades de predação extrativa do capital, operado pela Braskem, que coloca o lucro acima da vida. Suas práticas empresariais geraram instabilidade no solo e abalos sísmicos em bairros populares da cidade, ensejando irreparáveis perdas para a classe trabalhadora”. Na avaliação do Sindicato, o estado atual de colapso iminente é uma evidente falência dos protocolos de emergência dos órgãos estatais.
O documento destaca ainda a falta de assistência às famílias deslocadas, onde os valores concedidos a título de aluguel social não permitem “que as famílias possam enfrentar esse momento de suas vidas com um mínimo de dignidade e amparo”.
Outra agravante destacada pelo ANDES-SN é o dano ambiental causado. O colapso da mina 18 da Braskem resultará em grave elevação do nível de salinidade da lagoa Mundaú, pondo em risco todo o ecossistema do Complexo Estuarino Lagunar Mundaú-Manguaba, além da possibilidade de reações químicas entre os componentes dissolvidos na água.
Alertas não faltaram
A mineração de sal-gema na região da Lagoa Mundaú, em Maceió, acontece desde a década de 1970. Já em 1980 os primeiros alertas sobre os riscos dessa exploração vieram dos professores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Abel Galindo e José Geraldo Marques.
Mas foi no início de 2010 que os alertas sobre a possibilidade de afundamentos em Maceió provocados pela mineração do sal-gema tocada pela Braskem, começaram a soar mais alto. Estudo realizado por pesquisadores da Ufal e publicado na revista científica Geophysical Journal International, mostrava que a exploração mineral em curso provocava aumento do nível do lençol freático na região, com o consequente aumento da pressão interna nos poços, o que poderia causar o afundamento do solo.
O mesmo resultado foi apontado em novo estudo no ano seguinte, dessa vez publicado na Engineering Geology, onde os pesquisadores estimaram que o afundamento poderia atingir até 1,5 metro em algumas áreas da cidade.
Somente em 2018, é que o Ministério Público Federal em Alagoas passou a acompanhar o caso (leia aqui). Agora, o colapso iminente da mina 18 pode deixar a área em Maceió com um buraco do tamanho do Maracanã.
A íntegra da nota de posicionamento do ANDES-SN sobre a tragédia na cidade de Maceió e em outras regiões do Estado de Alagoas pode ser lida AQUI.
Foto da capa: Sinteal
Fonte: ANDES-SN – Publicado em 01 de Dezembro de 2023 às 20h28