Há mais de dez dias, milhares de polonesas e poloneses estão nas ruas de Varsóvia, capital da Polônia, e de outras cidades do país em protesto contra uma decisão judicial, que resulta na proibição quase total da interrupção da gravidez. O Tribunal Constitucional decidiu proibir o aborto por anormalidade fetal, sob o argumento que a prática viola a Constituição do país e colocou a Polônia ainda mais distante da realidade mais geral da Europa.
Em luta desde o dia 22 de outubro, na última quarta (28) foi convocada uma greve geral de mulheres, com apoio de sindicatos. Muitas trabalhadoras e trabalhadores aderiram ao dia de luta, tirando folga, doando sangue ou utilizando as chamadas “horas sindicais” para não para comparecer ao trabalho.
Os atos foram ganhando um número maior de participantes e, na última sexta (30), a manifestação reuniu mais de cem mil polonesas e poloneses. Desafiando as restrições sob pandemia, que não permitem reuniões com mais de cinco pessoas, manifestantes percorreram pelas ruas do centro de Varsóvia, carregando os famosos guarda-chuvas pretos, símbolo dos protestos pelo direito ao aborto na Polônia e cartazes com os dizeres “eu penso, eu sinto, eu decido” e “Deus é mulher”.
A manifestação contou com a participação do prefeito de Varsóvia e reuniu muitos jovens e famílias com crianças. As organizações de direitos das mulheres, que estão a frente dos protestos, enfrentam várias ações legais por descumprimento das medidas restritivas.
Segundo informações enviadas à CSP-Conlutas pelo sindicato polonês IP (Workers Initiative, sigla em inglês), ocorreram atos de apoio em frente às embaixadas polonesas, consulados ou residências de embaixadores na Ucrânia (Lviv, Kyiv, Kharkiv, Mariupol), Alemanha (Berlim), Reino Unido (Londres, Glasgow), Itália (Roma), Noruega (Oslo), Suécia (Estocolmo).
A lei para o procedimento de interrupção da gestação na Polônia, país de predominância católica, já era uma das mais duras da Europa. Assim como em outros países com governos conservadores, o presidente polonês, Andrzej Duda (PiS), tem buscado impor valores mais tradicionais e católicos em sua gestão pública, acabando com o financiamento do estado para a fertilização in vitro, introduzindo temas mais patrióticos nos currículos escolares e financiando programas da Igreja católica romana.
Grupos de extrema direita, apoiadores da restrição ao aborto, se reuniram também, em menor número, na capital polonesa. Segundo imagens divulgadas pela imprensa, houve confronto entre a polícia e membros da extrema direita, que tentaram agredir os manifestantes pró-aborto.
Essa não é a primeira vez que o governo tenta endurecer ainda mais a legislação que permite, em poucos casos, a interrupção da gestação. Em 2016, milhares de polonesas e poloneses foram às ruas contra um projeto de lei que buscava proibir totalmente o aborto no país.
*Com informações da CSP-Conlutas e da Agência Deutsche Welle. Imagem: democracynow.org
Fonte: ANDES-SN – Atualizado em 04 de Novembro de 2020 às 15h13