A diretoria da Associação dos Docentes da Universidade Federal de Campina Grande – ADUFCG vem a público repudiar, de forma veemente, a recomendação da Presidência da República ao Ministério da Defesa para que sejam feitas “comemorações devidas” no dia 31 de março de 2019, data de deflagração do golpe empresarial-militar de 1964.
A iniciativa do atual governo de ultradireita se insere em mais uma de suas ações políticas para tentar reescrever a história dos 21 anos de ditadura e construir novas ou reforçar antigas justificativas para um dos períodos mais sombrios da sociedade brasileira.
Não dá para dizer que não existiriam os assassinatos, estupros, torturas físicas e psicológicas de homens, mulheres e crianças praticados pelo Estado e seus agentes entre 1964 e 1985. Não se podem ignorar a cassação de direitos políticos, a prática de tortura sistemática contra opositores, o extermínio de 8 mil indígenas, a execução e o desaparecimento de 434 militantes e opositores do regime, a punição de 4.841 cidadã(o)s com perdas de direitos políticos, cassação de mandato, aposentadoria e demissão, entre estes 3.873 funcionário(a)s público(a)s, sendo 72 professore(a)s e 61 pesquisadore(a)s.*
Mas se o governo tenta impor aos quartéis a “comemoração” do golpe de 1964, na sociedade civil também existem iniciativas midiáticas e políticas que comprovam a disputa de narrativas sobre a ditadura. Chama a atenção e merece igual repúdio a exibição sincronizada na UFCG e outras instituições congêneres de filme sobre o tema, produzido e divulgado por organizações de ultradireita, que buscam abrandar os horrores da ditadura e oferecer uma nova visão da história.
Ao adotar uma expressa omissão para o fato, buscando abrigo sob a proteção da liberdade de expressão, a gestão da instituição esquece que esse direito tem limite diante de qualquer ação violenta contra a vida e a dignidade da pessoa humana. Ao mesmo tempo perde a oportunidade de, mesmo liberando este tipo de atividade no interior da universidade, publicamente ressaltar uma posição em defesa da democracia e das liberdades constitucionais.
Na véspera de se completarem 55 anos da deflagração do golpe de 1964, a ADUFCG renova seu repúdio a qualquer iniciativa que faça apologia a ditadura e ressalta que apenas com memória, verdade, justiça e reparação a sociedade brasileira estará protegida do perigo do retorno de quebra das instituições democráticas.
Campina Grande, 29/03/2019
Diretoria da ADUFCG
*Fonte: ANDES-SN