A pressão política da Associação dos Docentes da UFCG – ADUFCG e de estudantes fez o ministro da ciência e tecnologia, Marcos Pontes, cancelar sua palestra no sábado a tarde (13/04) na Universidade Federal de Campina Grande – UFCG. Ele enviou um vídeo de sete minutos explicando que para falar seria necessário um “clima favorável” para a atividade.
Antes do início da palestra, estudantes e professores organizados pela ADUFCG foram até o Centro de Extensão José Farias Nóbrega assistir ao evento e cobrar explicações para o recente corte de 42% do orçamento do Ministério e de R$ 5,8 bilhões na educação, mas foram barrados na entrada por seguranças particulares a serviço da Reitoria da UFCG. Só depois da uma conversa entre a direção da ADUFCG e o reitor Vicemário Simões a entrada foi liberada.
Cobrança
A iniciativa de acompanhar a palestra do ministro Marcos Pontes e questioná-lo sobre o destino da ciência e da tecnologia no país, explica a ADUFCG, foi uma reação da comunidade acadêmica a situação crítica que o setor enfrenta, agravada com o recente corte de 42,27% das verbas do MCTIC, que coloca em risco o financiamento de cerca de 11 mil projetos e 80 mil bolsas custeadas pela principal agência de fomento à pesquisa do país, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
O corte é também resultado do congelamento de investimentos durante 20 anos determinado pela Emenda à Constituição EC 95/2016. Em 2010 os investimentos no ministério chegaram a aproximadamente 8,6 bilhões de reais (em valores atualizados, quase 10 bilhões de reais). Na gestão Temer, o Ministério da Ciência e Tecnologia investiu apenas 3,77 bilhões de reais em 2017. Em 2018 ocorreu um novo corte e o CNPq entrou 2019 com um rombo de 300 milhões de reais no orçamento. Com o corte de 42% do orçamento a situação está ainda mais crítica
Desistência
A desistência do ministro em realizar sua palestra ocorreu cerca de uma hora após o início previsto para a atividade, às 16h30. Nenhum representante do Ministério ou da Reitoria anunciou o cancelamento e a plateia que lotava o Centro de Extensão foi surpreendida com a exibição de um vídeo com Marcos Pontes.
Ao invés de responder a questionamentos num debate com estudantes e professores sobre o corte de 42% do orçamento do Ministério da Ciência, Marcos Pontes, enviou um vídeo em que disse que ter “um bom relacionamento com a área econômica do governo e que está negociando para reverter o contingenciamento”.
Enquanto aguardava o início da palestra, estudantes e diretores da ADUFCG se manifestaram no auditório contra o corte de verbas. Uma faixa foi aberta na frente a plateia e muitos gritaram palavras de ordem em defesa da educação pública.
“Uso político da UFCG”
Em busca de manchetes e de publicidade para marcar os primeiros 100 dias do governo Bolsonaro, a visita se iniciou com atividades no INSA e às 14h, o ministro inaugurou o Centro de Testes de Tecnologias de Dessalinização (CTTD) no Laboratório de Referência em Dessalinização (Labdes), o qual já faz pesquisa na área há mais de 20 anos. Informações divulgadas no noticiário local revelam que o ministro prometeu cerca de R$250 mil para este projeto. O tema de sua palestra seria “Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento do Brasil”.
Repressão
Nos dias que antecederam a vinda do ministro, diversas faixas questionando os cortes de verba na ciência e tecnologia e na educação foram furtadas das entradas do Centro de Ciência e Tecnologia – CCT, do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde – CCBS e da entrada do Bloco BZ.
Fonte: ADUFCG – 15/04/2019