Segundo dia de evento na Unila tem debate sobre multicampia, povos originários e afrodescendentes

9 de dezembro de 2022

O segundo dia das atividades do ANDES-SN em Foz do Iguaçu (PR), nesta quarta-feira (7), começou com um ato na Ponte Internacional da Amizade, que liga o Brasil e o Paraguai, em defesa da educação pública e pela integração latino-americana. O clima de luta e de integração de povos e culturas marcou também os debates.
O evento reúne o II Seminário Internacional Educação Superior na América Latina e Caribe e Organização dos/as Trabalhadores/as, I Seminário Multicampia e Fronteira e o I Festival de Arte e Cultura: Sem fronteiras, a arte respira lucha (arte respira luta. Luta respira arte), que acontecem de forma intercalada, de 6 a 9 de dezembro.
Fronteiras e Multicampia
A terceira mesa teve como tema “Universidade, condições de trabalho e lutas sociais na fronteira”, com Andreia Moassab (Unila), Susana Cavalheiro de Jesus (Unipampa) e José Sávio (UFAC e diretor do ANDES-SN). As explanações abordaram as várias particularidades, desafios e problemas das universidades de fronteira e multicampi.

Foram apontadas desde as dificuldades de deslocamento da comunidade acadêmica, especialmente estudantil, e a constante migração de quadros docentes, até as particularidades da relação com povos originários e de outros países, que nem sempre são bem acolhidos nas instituições. As e os participantes relataram ainda a brutalidade da convivência com a violência de grupos criminosos e conservadores, com a forte presença do agronegócio, da mineração que ameaçam a população local e docentes, que desenvolvem projetos de extensão e de pesquisa em defesa dos povos originários, com movimentos sociais ou de temas contrários aos interesses desses grupos.
“Enquanto temos colegas debatendo a inclusão das populações tradicionais, que militam nesse campo da inclusão dessas populações em nossos projetos políticos pedagógicos, há professores que continuam ajudando a fazer projetos de impacto ambiental, construir estradas em terras indígenas. A universidade não está apontada para um rumo da inclusão. Temos uma série de disputas, um quadro de conservadores”, pontuou José Sávio, 2º vice-presidente da Regional Norte I do ANDES-SN. “Estamos diante de uma perspectiva de certa insegurança de como vamos sobreviver em uma região que está em disputada enquanto região de tantas fronteiras”, acrescentou.
Arte e Cultura
Após o debate, as e os cerca de 150 participantes assistiram as apresentações do Duo Che Valle, com músicas do Paraguai e Argentina, e do Elenco folclórico “Avances Internacional de Ciudad del Leste”, com a maestra y coreógrafa, Soledad Álvarez.
Povos Originários e Afrodescendentes
Na sequência, aconteceu a quarta mesa de debate, com o tema “Universidade e lutas dos povos originários e afrodescendentes”, com Camille Chalmers (PAPDA/Haiti), Maria Raimunda (UFF/Brasil) e Senilde Guanaes (UNILA/Brasil). As apresentações trouxeram reflexões profundas sobre a presença dos povos originários e afrodescendentes nas universidades, a necessidade de mudanças estruturais na grade curricular e nas regras e epistemologias das instituições de ensino.

Foi reforçada ainda, em todas as falas, a necessidade de lutar contra o aprisionamento e elitização da produção de conhecimento nas universidades, assim como contra o apagamento dos sujeitos das comunidades quilombolas, indígenas, ribeirinhas produtores desses conhecimentos e tecnologias.
Também foi ressaltada a importância da integração das lutas entre os povos da América Latina e o Caribe e de criar laços de intercambio entre os movimentos dessas regiões, em especial daqueles ligados à educação, e de se aplicar na luta cotidiana a Pedagogia da Revolução.
Camille Chalmers, que professor da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Estatal do Haiti e coordenador da PAPDA – Plateforme Haïtienne de Plaidoyer pour un Développement Alternatif, destacou que o sistema de opressão e de monopólio de produção de conhecimento e tecnologias e da difusão desses exclui, nega e inferioriza uma grande parte da sociedade mundial. “É muito importante, como passo estratégico, organizar o diálogo civilizatório e criar uma nova epistemologia a partir de quatro fraturas desse sistema opressor”, ressaltou.
Ele citou como fraturas a relação do sujeito com o mundo, que resulta no individualismo, a relação entre homens e mulheres, baseada na superexploração das mulheres, da sociedade com a natureza, com o impacto ambiental e dos “civilizados” com os “bárbaros”, que sustenta a exclusão de parcela significativa da população das universidades.

“Em todos os processos de luta, sobretudo a partir do século 20, o sistema educativo, em particular as escolas secundárias e universitárias, foram atores importantes de questionamento e resistência”, lembrou, ressaltando a importância das lutas travadas pelos movimentos sindicais e estudantis.
Chalmers recitou, como referência, uma reflexão do cubano José Martí. “Esta é a América, a terra dos rebeldes e dos criadores, e aqui se sente íntegro, sangrando daquilo que ela sangra e amando seus amores, aquele que nunca abusa das palavras solenes”.
As atividades deste segundo dia serão encerradas com a DJ Sthe, que comanda a pista de dança no Sudacas Bar.

O evento segue até o sexta-feira, dia 9. Confira a programação:
Dia 08/12 – Unila/Jardim Universitário e Auditório Martina
9h – Apresentação musical dos professores Marcelo Villena e Gastón da Sesunila
9h20 – 12h: Mesa 5 – Universidade, pandemia e mudanças tecnológicas na AL: uma nova forma de exclusão:

  • Amanda Moreira (UERJ/Brasil)
  • Ivan Lopez – (UNAM/México)
  • Javier Blanco (UNC/Argentina)
  • Juliana Melim (UFES/Brasil)
    14h – Apresentação musical da professora Ana Lúcia Fontenele da ADUFAC
    14h15 -18h: Mesa 6 – Os desafios das universidades públicas multicampi no Brasil. Painel com diversas seções sindicais:
  • UNEB – Milton Pinheiro
  • UEMG – Túlio Lopes
  • UFF – Kate Lane
  • UFAM – Valmiene Farias
  • IFRS – Claudio Fernández
  • Unioeste – Gilberto Calil
    Atividades culturais
    19h – 10 anos do cinelatino com filme Eami da Paz Encina (Local: JL Cataratas)
    20h30 – Debate sobre o filme (Local: Selina Bar)
    21h30 – Sem fronteiras: a arte respira lucha (Local: Selina Bar)
    Piseras do Embauba – Mulheres do coco
    Herencia Latina – Grupo Musical de salsa

Dia 09/12 – Unila/Jardim Universitário e Mini-auditório Sala 203
9h – Apresentações artísticas do Festival de Cultura da Unila
9h30 – 11h: Mesa 7 – O papel da arte e da cultura na resistência de nossos povos da América Latina:

  • Félix Eid – professor de música da Unila
  • Priscila Duque – Artista do carimbó de Belém do Pará
  • Priscila Rezende – artista visual e performer de Belo Horizonte
    11h – 12h30: Apresentações artísticas
    Grupo Mylpha de Música e dança latino-americana
    Priscila Duque – Performance com tambores do carimbo
    Priscila Rezende – Performance
    16h – 22h: Programação do Festival de Cultura da Unila e I Festival de Arte e Cultura do ANDES-SN
    19h – Show da Caravana Tonteria, de Leticia Sabatella e músicos (Local: Auditório Martina)
    22h – Festa final no espaço cultural A Casa.

Leia também:
Em Foz do Iguaçu, ANDES-SN realiza ato em defesa da Educação Pública e pela Integração Latino-americana
Fonte: ANDES-SN – Atualizado em 07 de Dezembro de 2022 às 22h35

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