Desde o início da pandemia da Covid-19, foram confirmados 38.019 mil casos em indígenas de diversas etnias no país, segundo os dados do Comitê Nacional pela Vida e Memória dos Povos Indígenas, atualizados nesta quarta-feira (28). Cerca de 158 povos indígenas já foram atingidos pela pandemia, e 865 dos contaminados vieram a óbito.
O Comitê, formado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), organizações de base e instituições, foi criado em maio em decorrência das subnotificações dos casos do novo coronavírus nos territórios indígenas. Na época, o ANDES-SN alertou para a imprecisão dos dados de órgãos competentes e as consequências da Covid-19 nas comunidades indígenas, que há mais de 500 anos sofrem com invasões em suas terras, doenças e dizimação de seus povos.
A complexidade da situação dos indígenas no país revela as condições de vulnerabilidade e racismo institucional que ameaçam os povos originários. Os dados da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Saúde, de 28 de outubro, apontam 32.127 mil casos e 473 mortes de indígenas em decorrência da Covid-19, números menores do que o estimado pelo Comitê.
“A falta de transparência dos dados da Sesai impede a identificação de muitas cidades onde os óbitos aconteceram. Os dados com a sigla SI (Sem Informação) representam esses casos. Mais uma vez denunciamos a falta de transparência e o racismo institucional da Sesai e exigimos respeito aos nossos direitos”, alerta a Apib e suas organizações de base.
De acordo com as lideranças, o critério de localização do paciente utilizado pelo órgão para confirmar os casos é excludente. A Secretaria só contabiliza os casos de indígenas aldeados, excluindo os que vivem em contexto urbano.
Primeiro Caso
O primeiro caso confirmado de contaminação por Covid-19 entre indígenas brasileiros foi no estado do Amazonas, onde uma jovem de 20 anos do povo Kokama foi infectada no dia 25 de março, no município de Santo Antônio do Içá. O contágio se deu por um médico vindo de São Paulo a serviço da Sesai, que estava infectado com o vírus.
Hoje, os Kokama são um dos povos mais afetados em casos de mortes, com 58. Em primeiro estão os Xavantes, com 68 mortes. O Amazonas também concentra o maior número de falecidos entre indígenas: 208; seguido do Mato Grosso, com 137. A atual população indígena brasileira, segundo a Fundação Nacional do Índio (Funai), é de 896,9 mil pessoas. O Norte é a região do país com o maior número de indígenas, 342,8 mil. O Amazonas concentra 55% do total dos povos indígenas da região. Os dados são referente ao Censo Demográfico de 2010, realizado pelo IBGE.
Ameaças
Além do vírus, as ameaças aos povos indígenas se intensificam diante da negligência e ataques do governo Jair Bolsonaro. As tentativas de mudança legislativa, o discurso de ódio, o racismo institucional, e o avanço do agronegócio sobre os territórios demonstram o ódio explícito do governo federal aos indígenas brasileiros.
Segundo o Comitê Nacional pela Vida e Memória dos Povos Indígenas, o incentivo do governo federal em “passar a boiada” em tempos de pandemia da Covid-19, agrava a situação de violência vivida pelos povos indígenas. “As invasões aos territórios estão mais intensas, o desmatamento aumentou, missionários fundamentalistas continuam sendo incentivados a cometer crimes e a mineração ilegal avança dentro das terras indígenas. Diante de um governo omisso em relação à proteção dos povos, não nos calaremos diante das ameaças que a Covid-19 representa para nossa sobrevivência”.
Saiba Mais
Levantamento aponta que ao menos 18 etnias já foram atingidas pelo novo coronavírus
Fonte: ANDES-SN – Atualizado em 28 de Outubro de 2020 às 17h03
*Imagem: Apib/Douglas Freitas